26.12.06

largavam um cheiro arrastado e viscoso, como uma lapa que se insinua à rocha talvez por uma vida inteira, e se espreguiça todas as manhãs de contentamento.

o cheiro dilui-me essa clareza ambígua das formas.

- diziam em voz alta que os nossos corpos juntos formavam poesia.
dizes: talvez ainda formem.

lembro-me do arrasto quebrado das ancas fortes, e da força nelas imprimida e saliente, já num outro odor quase inquebrável e simples.

eles captaram os espectros integrais e nús dos nossos corpos.
nós fotografamo-nos mas,
não nos vimos.
por fim, sabiamente, alguém diz: o espectro tem que continuar.
mas mais sábio ainda e num som que mesmo hoje ecoa dentro,
uma outra voz finaliza:
espectáculo.
es-pe-ctá-cu-lo.

24.12.06

assim mesmo,
de braços abertos.
oh oh oh

o bacalhau já não falha...

12.12.06

descarrilho na forma anárquica de olhar o mundo.

há uma certa "estranha sobriedade" em tudo isto, mas eu sinto-me bem. (talvez pelas vezes em que fujo do estranho //o que não "domino"//, de forma a não crescer com isso.
mas a fome de crescer dispara para todos os lados.
há os filmes (redescoberta recente e completamente viciada) há a música (redescoberta de todos os dias, sendo que a palavra vício será demasiado imprecisa para definir a envolvência) há a escrita (e a sua intoxicidade, ou toxicidade, ou ainda e simplesmente cidade) ........ (pelicula, pauta e palavra).

(cidade)
é no corrupiu dela e das que dentro se cruzam e remexem tudo, que absorvo e vomito as sensações vindas e transformadas em arte.

contra o peso da palavra, lanço a ausência dele.

5.12.06

na ressaca da chuva, a música.

fim-de-semana prolongado e de gravações - finalmente! para um produto final "bonito", um "massacre" extensivo. é assim a vida na música.

trabalho, trabalho, trabalho, mais trabalho... a magia da última nota de um concerto, e a descompressão, e o álcool, e a magia das outras, e os foi muito bom, que sabem muito bem mas nem sempre atenuam os erros (para nós indissociáveis.)
rotinas. que sejam. que sejam rotinas das de fazer crescer.
pois para nós, na ressaca da chuva, há a música.
(e há também nos outros dias de vazio, onde o que apetece não é mais do que tentar dormir à força e acordar "melhorzinho").

são dias.
no meu caso, até no nome.

28.11.06

pois é, 27. hoje, ao ver o meu profile, constactei que fiz anos.

É a idade mítica em que vários artistas Demasiado inconformados se deixaram Explodir nos próprios exageros.

De novo a poesia:

Apesar de inconformado, Espero ir já mais tarde E mais realizado.

25.11.06

estranho.
chegavas onde querias e eu
às vezes fraquejava.
.
.
.
houve em nós uma certa união
corrupta, que se desagregou
nas nossas prespectivas muito próprias
de olhar o mundo à volta.
.
.

.

.

tu vivias nos livros.
-
eu tentava escrever o meu.
.
.

...................................................................
...................................................................
...................................................................
...................................................................
...................................................................
...................................................................
o abraço, esse, ficará sempre guardado
no peito com fome de outros mundos.

19.11.06

faço amor com um certo romance que fui alimentando no plano imaginativo.

nem sempre a liberdade que preciso para criar as minhas "bugigangas" é compatível com absolutismos. preciso de silêncios; de sobreviver a sismos; de sismar com isso de forma a chegar mais à frente;

presiso da parte não visível

da vida terraquea,

de forma a exorcizar

a dificuldade da língua falada.

quando tudo se precipitar em uníssono no "buraco" onde descanso os corpos, onde evoluo, e "choro", e riu, e estravaso sensaçõe contidas, nesse buraco onde me dispo e me olho no mínimo das defesas, aí virá a tal força (que pela dificuldade do termo vou definir como) alígena, de apartir do fundo furar distroços na direcção da luz, e agarrado às coisas em que acredito ir subindo à altura suficiente do tombo não se contentar com menos do que o fundo.

(agora que percebo com maior clareza a distorção da realidade enquanto escrevo.)

10.11.06

persiste em mim uma nota meio tom acima.

talvez aconteça de fazer sentido numa outra base melódica, mas aqui não. aqui está meio tom a cima.

pinto a nota com a palavra.
escrevo a música.
escavo a casa.
título: "a forma/forma do ouvido" desafino prepositadamente. procuro uma outra forma de fazer música, de forma a afinar o ouvido de uma outra forma.

a forma,

foi a forma que arranjei de balizar a música. mas por defeito do ouvido. (condicionada aos padrões ciclicos e repetitivos.....)

e eu formo uma outra forma de estruturar as músicas que sinto por impulsos de prazer e dor ambígua.

fumo-a.

à música.

4.11.06

às vezes consigo furar uma certa solidão que exacerba e seduz, e de onde vem a tal tendência suicida das artes gritantes.

e aí fujo a uma explanada de areia e deixo o vento salgado corroer-me as partes internas do corpo,
solto a ausência de matéria nas ondas de espuma, enquanto repouso prolongadamente o café no paladar sedento. e isso chega.

furo a onda no olhar esguio, e o travo ainda estimula a glandula sublingual.

.

.

na convicção de andares perto,
esperneio uma outra forma
de chegar mais a cima.
e chego.

28.10.06

desta vez, atiro dois posts.
o humor
e a psicose da lágrima.
__________________________________
isto é a prova de que os sentimentos
vêm sempre acompanhados
do seu inverso.
(ao teu rato)
mais específico,
clica-lhe em cima.
________________________________
em baixo, a psicose.

27.10.06

desabaram as paredes do quarto*
consequência, tenho o resto do prédio
a esmagar-me o cérebro cansado.

*nome simbólico

de uma estrutura bem mais ampla

comummente designado por vida.

:

apetece-me chorar

alguma coisas funda,

mas na eminência

de uma outra tentativa

infurtífera,

intoxico-me de algo

menos sujo e escrevo-as,

(as lágrimas), e talvez por isso

a escrita roce uma

natureza remanescente,

que é a de conter,

na mesma urgência do grito,

a amplitude do que se vai

absorvendo na força

dos tantos sentidos,

expelindo-as apenas

nas artes por vezes sufocantes,

porém fulcrais

na função utópica

de voltar a aguentar

a força do prédio

que vai crescendo e desmoronando,

de tempos a tempos

no cérebro extemporâneo.

21.10.06

façamos que por impulsos corrijo uma carência mais funda. talvez aconteça que a poeira dos pés descordenados entorpeça a arritmia da cabeça desencontrada. parto de um ponto frágil e efervescente, na linguagem do jazz, para o bambolear do resto da caminhada imprevisível. vem-me à memória uma frase: - improviso um passo que não penso. segue-se a desconstrução: -não penso no improviso que não de um passo. mas como posso, se eu respiro música mesmo nos mais fortes ataques de asma.
a frase, claro está, é também interrogativa.

10.10.06

esta foto por que de alguma forma venho do escuro, num mesmo tom instintivo e com cheiro a terra.
talvez na génese haja essa necessidade de criar a partir do fundo. talvez.

8.10.06

qualquer coisa mim, eu, a pessoa.

abro em mim uma fenda abismal, e atiro-me para dentro a lamber as visceras ainda em ferida.

existem contradições e eu estou exausto da sucessão de anastesias imprimidas de forma a esconde-las. escondo, o tal desfasamento entre a teoria e o que sou, e ao esconder-me não me permito a mim mesmo, e aí estou a desvirtuar-me na intrinssicidade do Ser numa prespectiva evolucionista.

tenho-me como certo, e por isso (re) parto numa aventura para a vida, fechada que está, por hora, a fenda abismal e ténue que prefaz o peito. arrisco-me, num limbo mais denunciado para a realidade dos entorpecidos, a perder o contacto panorâmico desse universo paralelo e consciente por onde sempre faço força.
:
:
o risco.
:
:
: de forma a ser menos estático.

parto descalço para mais um outono.

2.10.06

consinto que esta descarga outonal afunile para dentro de forma a agitar as águas estácticas.

consinto que a melancolia da folha agite a inércia de um peito algo descordenado na forma como se abre.

consinto que o cheiro a terra húmida conflua com o odor do que foi apodrecendo pela dificuldade inerente de expelir sentimentos.
consinto à mesma força que diminui o dia, a transversalidade de encurtar uma certa solidão não premeditada que vou sentindo por impulsos.

depois de tudo arrumado, é arranjar forma de chafurdar na incongruência, e fazer o mesmo com o inverno, e assim por diante com as estações mais ou menos definidas.
A minha foto
........................gra(')f.ico.ismo.onola.......... demasiado colado à palavra para ser uma outra coisa que não isto. utopia de mim, abismos da imagem arrancada e digerida.

post antigos e (in)temporias


O ROSTO À LUPA DE MIM

blog inTemporal

O dia de hoje podia muito bem ter sido um outro. Amanhã vemos isso.